Ela está de volta. E não estamos falando da Dory, e sim da Teoria Pixar. O jornalista e conspirador Jon Negroni não perdeu tempo e, após assistir Procurando Dory, já fez a quarta parte da Teoria mais comentada do mundo das animações. Desta vez, o autor consegue criar um paralelo muito forte entre Procurando Dory e Toy Story. Nós traduzimos o trabalho de Negroni e trouxemos para vocês.
A primeira parte da Teoria Pixar, traduzida, você pode ler no blog Vitralizado. A segunda, relacionada ao filme Divertida Mente, está disponível aqui. Para ter acesso à terceira parte e à integra desta quarta etapa, acesse o site de Jon Negroni.
Divirta-se com a tradução:
Teoria Pixar – Parte 4 (Procurando Dory)
Não chore mamãe … não chore.
Bem, alguns anos atrás eu propus uma teoria que mostra como e por que todos os filmes da Pixar, de Toy Story a WALL-E, existem em um universo compartilhado, com uma narrativa única e abrangente. A ideia é alimentada por easter eggs, aparições, temas das histórias, e outras pistas que compõem o que eu chamo deTeoria Pixar.
Desde que escrevi a teoria original e a transformei em um livro, eu também fui acrescentando “capítulos” que falam sobre Divertida Mente e O Bom Dinossauro. E agora chegamos ao lançamento de 2016, Procurando Dory.
Vou dar pra vocês o resumo normal, abaixo, mas antes, vamos a uma provocação. Você acreditaria em mim se eu lhe dissesse que os filmes Toy Story tem uma conexão incrivelmente forte com Procurando Dory? Bem, nós vamos chegar a isso.
A Pixar demorou treze anos, mas finalmente fez uma sequência de um dos seus filmes mais amados, Procurando Nemo. Nesse filme, um peixe-palhaço chamado Marlin atravessa o oceano em busca de seu filho Nemo. E ele tem a ajuda da peculiar Dory, uma Cirurgião-Patela com problemas de memória.
A sequência começa um ano depois, quando Dory se lembra, repentinamente, de uma pista relacionada com a sua família, a quem ela perdeu quando era criança – peixe – muito jovem. Então, Marlin e Nemo ajudam Dory a atravessar o oceano, mais uma vez para encontrar os pais de sua amiga. Só que, desta vez, eles têm de enfrentar os horrores fora do oceano, em um instituto de marinha que reabilita peixes e tem seus próprios aquários para exposições de animais aquáticos.
Primeiro, vamos falar brevemente sobre como Procurando Nemo se encaixa na teoria. Afinal, por razões óbvias, isso irá nos ajudar a saber o que podemos descobrir com a continuação.
Procurando Procurado Nemo
Este foi realmente um dos mais curtos capítulos do livro e da teoria, principalmente porque as conexões em Procurando Nemo são muito especulativas e, além disso, acontecem para embasar outros filmes centrados em animais, como Ratatouille. Curiosamente, eu falo de bastante sobre Dory nesse capítulo, porque ela é uma personagem que representa a inteligência misteriosa que os animais dos filmes da Pixar parecem possuir, iniciando todo o caminho até filmes como Monstros S.A., que imagina um universo no qual os animais controlam o mundo como monstros.
Dory tem habilidades muito originais, que outros peixes simplesmente não possuem. Ela pode ler e falar baleiês. Nós vamos chegar a uma explicação disso depois, pois Procurando Dory ajuda muito a descobrir de onde surge isso tudo.
Também falo sobre como Procurando Nemo sai de sua maneira de criar animosidade entre os peixes do mar e os seres humanos, abrindo o caminho para uma comunidade cada vez mais conectada de animais que vão fazer o que for preciso para ficarem longe dos seres humanos. Os seres humanos roubam Nemo e ameaçam sua vida, mantêm peixes presos no aquário do consultório do dentista e, em seguida, capturam Dory em uma rede de pesca. Está provado no filme que os seres humanos são, na verdade, a maior ameaça para as criaturas do oceano.
Contudo, no final, os peixes vencem os humanos de uma vez por todas, graças à liderança de Nemo, que convence uma horda deles a rasgar a rede de pesca do ser humano para que eles possam escapar.
E Procurando Dory?
ATENÇÃO: A partir de agora teremos spoilers de Procurando Dory. Assista ao filme antes de seguir com a leitura, a menos que não se importe com spoilers.
Os seres humanos continuam terríveis na história de Procurando Dory, mas nem sempre diretamente. É verdade que eles capturam Dory quase que no mesmo momento em que ela atinge a floresta de algas que fica próxima ao instituto marinho. Mas Dory não parece temer ou odiá-los. Ela, assim como a maioria dos outros personagens, é bastante indiferente aos seres humanos.
Hank, o polvo, por outro lado, é muito antagônico aos trabalhadores do Instituto Marinho, pois está sempre fugindo e tentando encontrar maneiras de evitá-los a todo custo. Isso fica ainda mais claro quando descobrimos que seu pior pesadelo acontece na piscina de toque, onde as crianças colocam os dedos sobre o peixe, colocando o clima de um filme de terror no longa.
Imagine a cena de Toy Story 3, quando os brinquedos têm o primeiro encontro com as crianças na sala de brinquedos da creche. Todos os brinquedos experientes estão se escondendo, porque sabem que as crianças estão vindo para fazer de suas vidas uma correnteza viva. Bem, isso é basicamente o que acontece aqui, e esse medo de seres humanos não é apenas alívio cômico. É algo aterrorizante, e é até um pouco divertido, considerando que uma conexão com Toy Story virá depois …
Não é à toa que, até o final do filme, todos os peixes do instituto escutam as palavras de Marília Gabriela e vão para o oceano. Para eles, libertar-se dos seres humanos é a definição de um final feliz.
O que se passa com Dory… novamente?
Então o que faz Dory ser tão “especial”, e o que o oceano tem a ver com a Teoria Pixar? Bem, não se esqueça de que a inteligência crescente de animais em filmes como Ratatouille, Up: Altas Aventuras, Vida de Inseto, e até mesmo O Bom Dinossauro, nos levam para a realidade inevitável na qual os animais gigantescos que se parecem com monstros habitam o mundo futuro desprovido de seres humanos (eles apenas voltam no tempo para colher os gritos cheios de energia das crianças, a fim de sustentar o seu mundo, porque, você adivinhou, os seres humanos são baterias).
Como em Divertida Mente, a Pixar coloca em nossas cabeças a ideia de que os seres humanos emitem uma energia que acende a vida em objetos do cotidiano, como brinquedos, carros, e até mesmo as nossas próprias emoções. Então, como Dory se torna como ela é?
É revelado em Procurando Dory que ela nasceu em cativeiro. Então, ela cresceu constantemente cercada por seres humanos e sinais das exposições dos quais ela se lembra ao longo do filme, explicando como ela foi capaz de aprender a ler. Peach, a estrela de Procurando Nemo é um outro peixe que tem a rara capacidade de ler, e até mesmo ela explica que foi levada para o tanque após ser adquirida no eBay.
A ideia é que quando os animais se enraízam em ambientes humanos, eles são capazes de expandir suas personalidades e capacidades. Embora Dory sofra de uma deficiência muito grave, com perda de memória recente, ela é capaz de lidar com situações complexas através da formação de ligações. E de uma forma muito humana. Isso explica por que os peixes são tão rápidos para ajudá-la com qualquer problema que ela está enfrentando, sem muitas perguntas.
Vemos o mesmo tipo de coisa com Remy, de Ratatouille. O rato se torna o maior chef na França somente após ter experiências no mundo humano. Simplificando, os seres humanos e os animais têm muito a ganhar e aprender uns com os outros.
É só isso?
Não. Há também um momento sutil e inesquecível no filme que sugere uma ligação com Toy Story. Aí vai.
Lá pela metade do meio do filme, Marlin e Nemo estão em um tanque de peixes de uma loja de presentes, e há um peixe de brinquedo de plástico se movendo ao redor deles. Ele estimula Marlin algumas vezes, e depois, quando a dupla está tentando descobrir uma maneira de sair dali, eles percebem que o peixe está tocando o vidro, apontando diretamente para o caminho exato que eles precisam tomar para escaparem (um fluxo de gêiseres que irá levá-los até a piscina da maré).
A ideia é que o peixe brinquedo está, você adivinhou, vivo, e ele está tentando ajudar Nemo e Marlin sem revelar-se, porque tem que fingir de morto com tantas pessoas observando-os. Esta é uma grande conexão com a relação que vemos em Toy Story 2 entre Woody e Buster, que formam uma ligação e uma amizade juntos. Aqui, o brinquedo só parece ansioso para mostrar a Marlin e Nemo exatamente o que eles precisam fazer para que eles possam encontrar o seu amigo.
Em outras palavras, a Pixar é incrível.
Mais alguma coisa?
Como sempre, há muitos easter eggs e referências a outros filmes para encontrarmos, incluindo o código A113, que aparece perto do final do filme em uma placa de carro (de novo, como Toy Story).
Além disso, a voz de Sigourney Weaver (Marília Gabriela na versão brasileira) anunciando atrações pode ser escutada em todo o Instituto Marinho. Isso é familiar para os fãs de WALL-E, no qual Weaver empresta sua voz a um computador na Axiom. Logo, é sensato afirmar que no universo pixar a voz Sigourney Weaver é a mais confiável quando se trata de anúncios feitos por computadores.
Você se lembra da Darla de Procurando Nemo? Você pode ver a foto que o tio tem dela, segurando o peixe morto, no Instituto Marinho. Isso significa que o instituto marinho tem uma clara ligação com o P. Sherman, que também adora trabalhar pelo mar. Poderia até dizer que nesse um ano desde que perdeu todos os peixes de tanque, ele decidiu dedicar sua vida a estudar a vida aquática na Califórnia, um sonho que introduziu o fato de que ele mergulhou fundo no oceano apenas para tirar fotos, mas, eventualmente, acabou capturando Nemo.
E aqui está uma referência que sugere o crescimento do BNL, a corporação que, eventualmente, irá transformar todo o lixo do planeta em ar tóxico. Na figura abaixo (canto inferior direito), você pode ver um calendário WALL-E, referenciando aos robôs que um dia irão (tentar) limpar a Terra. Ou seja, estão nos dizendo que em um filme no qual há uma tonelada de lixo se acumulando na água do lado de fora do instituto marinho, robôs tão avançados como WALL-E já estão sendo ganhando seus primeiros protótipos.
A bola da Pixar e o caminhão Pizza Planet também fazem suas aparições regulares. Você pode ver a bola entre os brinquedos da Zona Kid, enquanto o caminhão Pizza Planet é um dos veículos subaquáticos encontrados durante a cena da lula gigante.
Outra coisa rápida é que, por qualquer razão, a Pixar parece realmente odiar aves, a menos que elas estejam em uma curta, como Piper, ou se chamem Nigel. Como as gaivotas de Procurnado Nemo e o pássaro predador instintivo de Vida de Inseto, há pássaros pouco inteligentes em todos os lugares de Procurando Dory, incluindo uma chamada Becky. que ainda vai encontrar uma maneira de conquistar seu coração, eu acho.
O que está por vir?
Infelizmente, ficaremos um ano sem novos filmes da Pixar, pois Carros 3 será lançado em Junho de 2017. Embora muitas pessoas podem não estejam muito animadas com mais uma sequência de Carros, elas ainda podem se consolar, pois o estúdio está lançando Coco, um filme original, que será lançado no mesmo ano, em novembro, inspirado no feriado mexicano Día de Muertos.
O filme já começou a ser feito em abril, e a história segue um menino de 12 anos chamado Miguel, que tenta descobrir um mistério de “gerações antigas”. A sinopse atual é:
“Coco é a celebração de uma vida, onde a descoberta de um mistério de gerações antigas leva a uma reunião de família ainda mais extraordinária e surpreendente.”
Além disso, teremos Toy Story 4 e Os Incríveis 2 nos próximos anos. Isso sem falar dos rumores de que a Pixar está trabalhando em quatro filmes originais, que seriam lançados na próxima década.
Todos esses filmes estão a meses e anos de distância, então, até os lançamentos, estarei aqui, conspirando.