Filmes que apresentam relações homoafetivas como uma das temáticas principais costumam ser repletos de sofrimento, conflitos e dificuldades. Moonlight, vencedor do último Oscar, e o nacional Hoje Eu Quero Voltar Sozinho são dois grandes exemplos. Me Chame Pelo Seu Nome não segue essa mesma linha. E isso pode ser considerado um fator positivo e, ao mesmo tempo, negativo.
Se pensarmos na mensagem, a ideia é fantástica. O longa de Luca Guadagnino consegue ser inovador e ousado ao mostrar que uma relação entre dois homens pode ser inteiramente feliz, sem a presença de familiares ou conhecidos preconceituosos. Afinal, é algo natural. Do ponto de vista narrativo, entretanto, a escolha é um pouco prejudicial. A ausência de conflitos, não por acaso, é o ponto mais desconfortável de Me Chame Pelo Seu Nome. Obviamente existem conflitos internos dos personagens, mas eles não são suficientes para evitar que a produção seja monótona.
Guadagnino possui referências claras do Neo-Realismo Italiano, que tem como um dos principais preceitos a proximidade com a realidade. Nesse ponto o diretor acerta, tendo em vista que a temática está cada vez mais presente em nossa sociedade. Entretanto, ele não consegue transmitir as mesmas emoções de filmes como Ladrões de Bicicletas e Roma, Cidade Aberta. Justamente pela falta de motivações, contextualizações históricas e conflitos resolvidos através de ações.
Apesar disso, Me Chame Pelo Seu Nome é um belo filme, especialmente pelas atuações. Timothée Chalamet apresenta um trabalho impecável e muito maduro para um jovem de 22 anos. Ao lado de Armie Hammer, que também está fantástico, Chalamet carrega a história muito bem, tanto pelos trejeitos bem peculiares do personagem Ellio quanto pelo momentos mais sexuais do filme. Momentos que, por sinal, foram dirigidos magistralmente. A fotografia também é destacável, pois se aproveita muito bem da paisagem italiana, naturalmente encantadora e poética. Outro mérito é a trilha sonora, muito adequada ao ritmo do filme e às ações dos protagonistas.
Me Chame Pelo Seu Nome é uma adaptação corajosa e merecedora das indicações a prêmios que tem recebido. Por conta dos vários momentos monótonos, entretanto, está longe de ser o melhor filme do ano, mas será lembrado por muito tempo, seja pelas ótimas atuações ou pelo fato de ter priorizado a felicidade em vez do sofrimento de dois homens apaixonados.