A odisseia política de Frank Underwood recebeu alguns pontos-chave no decorrer de quatro temporadas. Durante a primeira, vemos toda a ambição de um personagem que desejava apenas aquilo que lhe foi prometido. Já na segunda, o formato se repete, levando Underwood até a presidência com intrigas e manipulações semelhantes no formato da temporada anterior. Na terceira e na quarta temporada, vemos grande avanço na responsabilidade do personagem de Kevin Spacey como o homem mais poderoso do mundo. Presenciamos não só a relação de Frank com a posição de poder que ocupa, como também podemos ver sua fragilidade diante de sua relação com sua fiel aliada e esposa, Claire Underwood, interpretada por Robin Wright.
Na quinta temporada, lançada recentemente pela Netflix, em busca da vitória nas eleições presidenciais de 2016, o principal tópico deixado pela quarta temporada, o seu final, foi pouquíssimo desenvolvido. A declaração de guerra de Frank praticamente não nos leva a lugar nenhum, assim como a relação com grupos terroristas islâmicos e o fato de Conway ser um candidato a altura do casal Underwood.
A temporada 2017 de House of Cards se inicia muito bem, nos lembrando o quão implacável os protagonistas da série podem ser quando o assunto é se manter no poder; porém, no desenrolar da trama, os roteiros entram em um formato automático de histórias envolvendo política: hackers, jornalismo investigativo, intrigas e manipulação.
Apesar de essenciais neste formato narrativo, é preciso um diferencial que faça com que os tópicos citados acima dialoguem com uma história geral mais concisa. O que não acontece tão bem nesta quinta temporada. Os personagens não se desenvolvem internamente e entre si, principalmente a relação de Claire com o escritor Tom Yates, justificada no roteiro apenas nos últimos capítulos, e de forma bem artificial e forçada.
Com os episódios iniciais excelentes, o restante da quinta temporada de House of Cards segue em um nível razoável, sem grandes novidades. Porém, os três últimos capítulos retomam um potencial excelente para os próximos capítulo, responsável por manter a quarta e quinta temporada entre as melhores: a frágil relação e aliança entre Claire e Frank.
O resultado final ainda é positivo, principalmente por contar com atores e diretores tão brilhantes; porém, a série já demonstra um esgotamento de assuntos em seus roteiros, utilizando-se em excesso de temas atuais para sustentar a trama (Rússia, Síria, Eleições 2016, Ataque Hackers) e deixando de lado o desenvolvimento de seus personagens, interpretados por profissionais de extrema competência.
Se a sexta temporada adotar uma postura semelhante à da quinta, que deixou de lado a chocante declaração de guerra de Frank para trabalhar assuntos mais imediatistas, que só chegaram até o roteiro graças às eleições de Donald Trump e Hillary Clinton, a série pode entrar em um discurso que se preocupa, de forma válida, em retratar a realidade política, mas dentro de uma trama pouco amarrada e pobre.