Falar sobre racismo através de boas narrativas cinematográficas tem se tornado, positivamente, algo frequente em Hollywood. No entanto, Spike Lee é um dos diretores que consegue fazer isso de uma forma única e muito mais dinâmica do que os demais cineastas. Infiltrado na Klan é mais um exemplo disso. E que exemplo!
O novo filme do diretor de Malcom X e Faça a Coisa Certa conta a história real de Ron Stallworth, um policial negro que no ano de 1978 se infiltrou na Ku Klux Klan do Colorado a partir de ligações telefônicas e cartas. No entanto, por razões óbvias, ele não podia comparecer às reuniões da KKK, e por isso enviava um policial branco no seu lugar. A premissa por si só já é interessante, e Spike Lee não decepciona no momento de desenvolvê-la.
Com muito dinamismo e utilizando elementos divertidos e dramáticos, o roteiro consegue prender a atenção do público, tanto pela curiosidade quanto pela raiva despertada por alguns personagens. Os membros da KKK representam o que há de mais desprezível na sociedade americana dos anos 1970 e na sociedade mundial dos anos 2010. Ou seja, pessoas que defendem uma supremacia branca e a opressão racial. Consequentemente, você se apega aos protagonistas e torce para que eles possam superar tais adversidades criadas pelos vilões.
E o carisma dos atores que interpretam os “heróis” contribui para esse processo de empatia.
John David Washignton representa os negros com maestria, identificando os problemas da sociedade para com eles e sentindo, na prática, suas consequências. Adam Driver, por outro lado, interpreta o policial branco que se infiltra na KKK e não consegue entender completamente a importância da luta de Stallworth. Portanto, serve como uma representação das pessoas brancas que defendem o fim do preconceito, mas não conseguem senti-lo da forma real. Apesar disso, o personagem é excelente, e Driver faz por merecer até uma indicação ao Oscar de Ator Coadjuvante.
Tecnicamente o filme também tem pontos positivos. Infiltrado na Klan conta com uma trilha sonora fantástica e muito adequada à temática e ao ritmo da história. A edição é brilhante e possui cortes e transições diferentes, que trazem elementos de exclusividade para a produção. O desenrolar da trama é feito com méritos de todos os profissionais envolvidos em um filme, comprovando a qualidade do trabalho de Spike Lee.
Infiltrado na Klan é um filme baseado em uma história real da década de 1970, mas as temáticas continuam atuais, prova disso é a impactante sequência final, que é um soco no estômago de quem está assistindo e um tapa na cara de quem Lee pretende criticar. Um longa-metragem que precisa ser visto e divulgado como um blockbuster, pois o mundo precisa conhecê-lo. Esperamos que o Oscar não nos decepcione e contribua para esse processo. Afinal, os socos e tapas metafóricos dados pelo filme precisam continuar acontecendo para evitar que o preconceito e as agressões físicas contra as minorias se mantenham e prosperem nos próximos anos.