Assistir aos filmes de Paul Thomas Anderson é um ato nobre de admiração cinematográfica. Desde que nos apresentou o roteiro brilhante de Boogie Nights, em 1997, o cineasta vem conquistando muitos fãs, tanto pelas boas histórias que sabe contar quanto pela perfeita simetria encontrada em suas obras, especialmente no excelente Magnolia, de 1999. Trama Fantasma, novo filme do diretor, apresenta os mesmos traços visuais do diretor e alguns toques narrativos já existentes em outros trabalhos de Anderson.
O longa, indicado a seis Oscars, conta a história de um estilista renomado dos anos 1950, interpretado por Daniel Day-Lewis. A personalidade peculiar do protagonista Reynolds Woodcock é bem adequada aos tipos de papéis que Day-Lewis gosta e sabe fazer. O ator é a alma do filme, apresentando a mesma entrega e o mesmo empenho de outros grandes personagens que viveu nas telonas. Infelizmente, essa foi a última vez que conseguimos apreciar o trabalho de Day-Lewis nos cinemas (o filme marca a aposentadoria do ator). O personagem de Day-Lewis é genial e genioso, e apesar de algumas condutas questionáveis, consegue demonstrar sentimentos variados durante o filme, graças ao bom trabalho do ator.
Um fator que facilita a vida das duas estrelas da produção (Anderson e Day-Lewis) é o restante do elenco. Vicky Krieps e Leslie Manville, especialmente, dão um suporte consistente e visível ao protagonista, tornando-se dois destaques. Principalmente Leslie, indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. A trama densa desenvolvida por Paul Thomas Anderson precisava de grandes atores, e as escolhas foram certeiras.
Trama Fantasma aborda perturbações, manias perfeccionistas e paixões de uma forma angustiante, elaborada em todos pontos cinematográficos. A trilha sonora, composta em sua maior parte de um piano, pode ser simples, musicalmente falando, mas é a mais adequada para ambientação e para o clima do filme, tendo em vista que é extremamente elegante, apesar de assustadora em alguns momentos. Naturalmente, a direção de arte apresenta a mesma sensação.
Vale destacar também os figurinos de Trama Fantasma, e não poderia ser diferente. A história de um estilista exigente e doentio com seu trabalho tinha a obrigação de apresentar roupas magníficas e impecáveis. E isso foi feito, transformando o longa no favorito da categoria de Melhor Figurino.
A direção de Paul Thomas Anderson, como um todo, continua perfeita. O cuidado que o cineasta teve com Trama Fantasma é impactante. Os detalhes visuais e narrativos se complementam muito bem, construindo um drama denso, sensível e, ao mesmo tempo, com personagens psicologicamente desestabilizados. Os planos e os cenários são de encher os olhos, assim como a simetria de Anderson, cada vez mais explícita e necessária para suas histórias. A edição do longa-metragem também foge do comum ao abusar das fusões para ditar o ritmo de uma narrativa que poderia ser ainda mais lenta.
Trama Fantasma pode não ser o melhor trabalho de Paul Thomas Anderson, mas terá papel fundamental na consolidação do diretor como um dos maiores nomes cinematográficos do Século XXI. Afinal, o perfeccionismo de Reynolds Woodcock está também cada vez mais presente no trabalho de Anderson. Sorte a nossa e a de Day-Lewis, que também é adepto dessa filosofia de trabalho e se despediu das atuações em uma obra que lhe rendeu uma indicação ao Oscar e o prazer de repetir a parceria eficiente de Sangue Negro.