“Um dos melhores filmes dos últimos vinte anos”. Essa é uma ótima definição para Três Anúncios Para Um Crime, longa-metragem dirigido por Martin McDonagh que é um dos grandes favoritos do Oscar 2018. Contando a história de uma mãe indignada com o assassinato/estupro da filha e a incompetência da polícia local, a produção é muito ousada, tanto pelas temáticas abordadas quanto pela construção do roteiro.
Para começar, a premissa de um cidadão que coloca três outdoors cobrando atitudes de autoridades com relação a um crime é simples e inesperada. Por isso é tão boa. Mas Três Anúncios Para Um Crime é muito maior do que uma premissa. É um filme de personagens fortes e muito bem construídos. A protagonista, Mildred, por exemplo, parece uma versão ainda mais raivosa e determinada dos personagens de Quentin Tarantino. Por sinal, a violência dela é bem semelhante.
Sua intérprete, Francis McDormand, tem uma atuação magistral, merecedora do prêmio de Melhor Atriz no Oscar (assim como algumas de suas concorrentes). Francis é uma atriz consagrada, e neste filme ela comprova o porquê. Tanto nas cenas dramáticas quanto nas mais violentas ela consegue ser completa e transmitir várias sensações ao público. Pode-se dizer o mesmo dos coadjuvantes Sam Rockwell, Woody Harrelson e Peter Dinklage. Os dois primeiros também concorrem ao Oscar, merecidamente. Afinal, os dois policiais que interpretam são os responsáveis pelos momentos mais surpreendentes ou empolgantes do filme.
A direção de Martin McDonagh, não valorizada pela Academia, é muito adequada à proposta de Três Anúncios Para um Crime. O cineasta mostra um conhecimento completo da obra e de seus personagens, especialmente por ter sido o responsável também pela concepção do roteiro, igualmente brilhante e cheio de reviravoltas e momentos inesperados. Trilha sonora, edição e fotografia seguem a mesma linha de qualidade, ambientando e compondo muito bem o drama vivido pelos personagens e suas locações.
Três Anúncios Para Um Crime tem um humor negro e temas polêmicos, como estupro, negligência e racismo. Muito por isso o filme tem ganhado repercussão e vários prêmios. A coragem e o talento peculiar de Martin McDonagh, já vistos em Sete Psicopatas e um Shih Tzu, merecem ser reconhecidos e valorizados, especialmente em uma época na qual o cinema tem a obrigação de não se calar diante das atrocidades do cotidiano, seja o proporcionado por cidadãos “comuns” ou aquele criado por autoridades inconsequentes e/ou apáticas.