Ousadia. Essa palavra descreve perfeitamente Star Wars: Os Últimos Jedi, filme da franquia mais famosa do cinema lançado nesta semana. A nova trilogia teve início com Star Wars: O Despertar da Força, que, de forma impecável, seguiu os moldes de Uma Nova Esperança e conseguiu conquistar uma nova gerações de fãs e, ao mesmo tempo, agradar os já apaixonados pela saga. O novo longa, entretanto, optou pela insegurança.
Rian Johnson, diretor e roteirista de Star Wars: Os Últimos Jedi, parece ter ignorado os manuais de roteiros cinematográficos que ditam regras e padrões. E conseguiu fazer um grande filme, muito por conta dessa coragem. O filme é rico em plot twists fantásticos, que mudam o rumo da história com muita facilidade, empolgando todos que assistem. Não por acaso, as palmas eram frequentes no cinema. Johnson soube aproveitar o universo rico de Star Wars, mas pensou à frente.
Star Wars: Os Últimos Jedi apresenta novos personagens e continua fazendo a transição que a Disney claramente busca desde o primeiro filme da nova trilogia. Retirar Luke, Leia e Han do centro das atenções se tornou um dos objetivos da saga, e isso é bom e ruim, do ponto de vista narrativo. Star Wars começa a ser expandido cada vez mais, algo discutível para os defensores da ideia de que o universo criado por George Lucas deveria ser todo baseado nas histórias dos Skywalker. A pressa com que a Disney está fazendo essa mudança pode não agradar muito, tendo em vista que alguns personagens ainda poderiam funcionar. Entretanto, é ótimo ver como a galáxia é realmente muito maior e complexa do que sempre vimos nas telonas.
A princípio, podemos dizer que Star Wars: Os Últimos Jedi respondeu a todas as perguntas levantadas após o lançamento de seu antecessor. A sensação ao sair da nova produção é bem diferente, pois parece que tudo foi solucionado. Isso é ruim, pois abaixa a expectativa para Star Wars: Episódio IX. Contudo, espera-se que revelações sejam inseridas no próximo longa. Afinal, Star Wars: Os Últimos Jedi possui plot twists baseados em ações, ao contrário de Star Wars: O Império Contra-Ataca, por exemplo, que tem como ápice um plot twist de revelação (plot que ainda se mantém como melhor da franquia, apesar das boas variáveis do novo filme).
Ainda sobre a narrativa, algumas coisas incomodam ainda mais do que a falta de empolgação pelo próximo longa. O novo arco de Finn é bem fraco, e a necessidade de criar romances com as personagens femininas é algo bem incômodo, mesmo quando as insinuações são feitas de formas sutis. O ritmo das sequências iniciais de Star Wars: Os Últimos Jedi também é lento e cansativo. Por sorte, o filme cresce absurdamente depois de um certo ponto, e a experiência cinematográfica fica enriquecedora, apesar da premissa em si estar longe de ser uma das melhores da saga. Algumas piadas são ruins, assim como o exagero na representação do uso da força por parte de alguns personagens, como a exagerada cena de Leia vagando no espaço. Luke Skywalker, no entanto, faz a nossa espera de dois anos valer a pena, com momentos que não permitem que os fas segurem risos e lágrimas.
Já a parte técnica do filme é incrível. É possível defender, com unhas e dentes, a ideia de que este é visualmente o filme mais bonito da saga Star Wars. Os cenários, os figurinos, os efeitos visuais, a trilha sonora e a fotografia são muito bem elaborados e condizem bastante com o ambiente narrativo. A edição também é inteligente, e dá um dinamismo ao filme, especialmente durante as cenas em que Kylo Ren e Rey mantém um contato pela força.
Star Wars: Os Últimos Jedi deixa um legado muito interessante para a saga. Apesar de alguns pontos questionáveis, o filme é extremamente ousado e satisfatório. O longa apresenta tudo que um bom filme de Star Wars deve ter, incluindo um fan service com uma “participação especial” de respeito. Ao que tudo indica, a franquia está caminhando de vez para novos rumos, e é natural que ainda esteja se encontrando. A impressão de que Star Wars é maior do que seus próprios personagens está cada vez mais presente, e isso aumenta as possibilidades narrativas.
A força que esteve com George Lucas durante a criação deste universo parece ter sido aprimorada pela Disney, que tem conseguido aproveitar o seu verdadeiro potencial. Contudo, é importante a produtora entender a importância de valorizar alguns elementos e algumas figuras clássicas da saga. Isso tem sido feito até o momento, inclusive em Star Wars: Os Últimos Jedi, mas a vontade de se livrar rapidamente de alguns deles pode vir a prejudicar os próximos filmes. Torçamos para que isso não aconteça, pois esta galáxia muito, muito distante ainda tem boas histórias para nos proporcionar, e é totalmente possível contá-las sem perder a essência, as referências e os personagens icônicos dos filmes anteriores.