Uma das questões mais discutidas da indústria cinematográfica é a diferença entre gêneros. Homens recebem mais papéis em filmes do que as mulheres? A discussão é recorrente, e pensando nisso, o site Polygraph analisou milhares de roteiros de filmes lançados para constatar a superioridade numérica masculina no meio. A ideia era comprovar esse fato com provas concretas, e não apenas pelo Teste de Bechdel. Através do número de falas por gênero, papéis destinados a cada sexo, idade dos atores e estatísticas relacionadas à quantidade de mulheres trabalhando na criação de filmes, o site conseguiu dados consistentes sobre o assunto. Trouxemos alguns deles para que você possa analisar se existe um sexismo enraizado na indústria do cinema. Confira abaixo.
Número de falas por gênero
Dos 2 mil filmes analisados, 307 contam com 90% ou mais das falas sendo masculinas. Em outros 1206 o espaço para os homens predomina, variando entre 60% e 90%. A igualdade ocorre em apenas 314, enquanto as mulheres têm mais falas em apenas 173 filmes. Desses 173, em 10 deles o número de falas femininas é igual ou superior a 90% do longa. E isso inclui personagens de animações. Listamos abaixo os índices de falas masculinas e femininas em filmes da Disney, por exemplo. A lista é dividida entre filmes nos quais mais de 60% das falas são masculinas, filmes em que existe uma certa igualdade e filmes em que as falas femininas são maioria.
Filmes premiados e consagrados
Filmes de sucesso também comprovam a superioridade numérica de diálogos masculinos. Separamos alguns exemplos, já que a pesquisa envolve milhares de produções.
Kill Bill Partes 1 e 2
Apesar de serem protagonizados por uma mulher, os filmes Kill Bill não apresentam superioridade de falas femininas. Juntando os dois longas, os dados mostraram que, pelo menos, é igual a porcentagem, 50% para cada gênero.
Star Wars: O Despertar da Força
A superioridade masculina de falas na saga Star Wars é massacrante. Nos filmes da trilogia clássica os percentuais de diálogos de homens é superior a 89% em todos os longas. O índice abaixou na trilogia da década de 2000 e caiu ainda mais em O Despertar da Força. Contudo, ainda é muito grande. Apesar de Rey ter um papel muito importante no filme, a produção conta com uma diferença muito grande entre o número de falas masculinas e femininas. 72% dos diálogos são masculinos, enquanto 28% são femininos. Tivemos uma melhora em relação aos filmes antigos, mas ainda foi muito pouco.
O Regresso
O filme que deu o Oscar a Leonardo DiCaprio dividiu opiniões, mas não as falas. 100% dos diálogos do filme são masculinos. Ou seja, nada de mulheres falando na produção. Obviamente, o contexto histórico da época em que se passa o filme contribui para isso.
Spotlight
O vencedor do Oscar de melhor filme também não abriu muito espaço para as mulheres. 94% das falas do filme são masculinas e apenas 6% foram expressas por pessoas do sexo feminino. Com tão pouco, mérito para Rachel McAdams, que conseguiu concorrer ao Oscar com tão poucas falas.
Os Vingadores
O sexismo também sempre foi muito discutido nos filmes de heróis, especialmente em Os Vingadores. O longa conta com a Viúva Negra, uma excelente personagem feminina, mas que ainda não tem o espaço desejado. No filme de 2012, primeiro da franquia, por exemplo, 87% das falas do longa foram masculinas, enquanto os outros 13% foram destinados às mulheres.
Veja o gráfico interativo com todos os filmes analisados:
Idade de homens e mulheres no cinema
A idade dos atores também foi analisada pelos jornalistas. De acordo com o site, homens têm carreiras mais duradouras no cinema, pois, diferente das mulheres, conforme vão envelhecendo continuam conseguindo papéis de destaque. Analisando os 2 mil roteiros, nota-se que após os 32 anos, o número de falas masculinas nos filmes tende a crescer, enquanto o de falas femininas sofre quedas consideráveis.
Teste de Bechdel
Para dialogar com o Teste de Bechdel, o site também analisou os 200 filmes de maior bilheteria dos últimos vinte anos e calculou quantos passariam no teste, avaliando quais foram escritos por mulheres. Para os que não sabem, um filme é aprovado no Teste de Bechdel se tiver duas mulheres identificadas com nome que falam entre elas sobre um assunto que não envolve um homem. Entre os filmes escritos só por homens, 53% não passaram no teste. Já os filmes que possuem pelo menos uma mulher entre os roteiristas tiveram 62% de aprovação. Todas as produções que possuem apenas roteiristas mulheres foram aprovadas. Veja abaixo, em inglês.
Produtoras
Obviamente, a questão também envolve as produtoras. Afinal, elas compram, fazem e distribuem os filmes. Por isso, o site também avaliou quais delas seriam reprovadas no Teste de Bechdel. A indústria americana ainda mostra um retrocesso em relação aos estúdios europeus no assunto. As produtoras marcadas com a cor verde foram aprovadas, enquanto as que foram assinaladas com a cor rosa não passaram no teste. Confira:
Reflexo da sociedade?
Durante a avaliação de filmes de sucesso, o site também constatou que a proporção de homens e mulheres trabalhando no cinema é absurda: para cada mulher existem cinco homens na indústria. Ou seja, a cada 4500 diretores, apenas 500 são mulheres. E isso acaba sendo um reflexo da sociedade, visto que quanto mais popular um filme, menos mulheres estão trabalhando nele. Confira os gráficos abaixo:
Conclusão
O trabalho feito pelo Polygraph é importante para nos mostrar que a indústria cinematográfica (e a sociedade) ainda trata homens e mulheres com algumas diferenças. Os números mostram que uma melhora pode ter acontecido, mas ainda é pequena. Caso queira ter acesso completo à pesquisa, acesse o arquivo disponibilizado pelo site ou entre nos posts originais.
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